O Inventor da Escola Pública no Brasil, Educador Anísio Teixeira

14/05/2012 20:54

 

Anísio Teixeira, o inventor da escola pública no Brasil.

 

“O educador propôs e executou medidas para democratizar o ensino brasileiro e defendeu a experiência do aluno como base do aprendizado”. Anisío Teixeira

 

 

A evolução do pensamento pedagógico considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira no século XX.

 Anísio Teixeira (1900-1971) foi pioneiro na implantação de escolas públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de oferecer educação gratuita para todos. Como teórico da educação, Anísio não se preocupava em defender apenas suas ideias, muitas delas eram inspiradas na filosofia de John Dewey (1852-1952), de quem foi aluno ao fazer um curso de pós-graduação nos Estados Unidos. Dewey considerava a educação uma constante reconstrução da experiência, foi esse pragmatismo, observa a professora Maria Cristina Leal, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que impulsionou Anísio a se projetar para além do papel de gestor das reformas educacionais e atuar também como filósofo da educação. A marca do pensador Anísio era uma atitude de inquietação permanente diante dos fatos, considerando a verdade não como algo definitivo, mas que se busca continuamente. 

Para o pragmatismo, o mundo em transformação requer um novo tipo de homem consciente e bem preparado para resolver seus próprios problemas acompanhando a tríplice revolução da vida atual: intelectual, pelo incremento das ciências; industrial, pela tecnologia; e social, pela democracia. Essa concepção exige, segundo Anísio, "uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução".

 

Anísio Teixeira

 

Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité na Bahia em 12 de julho de 1900. Estudou no Instituto São Luís na cidade em que nasceu e no Colégio Antônio Vieira em Salvador, ambas jesuíticas.

Aos dezessete anos, teve sua inteligência reconhecida por Teodoro Sampaio, que o convidou a proferir uma palestra no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia.

Anísio desejou entrar para a companhia de Jesus, porém, seu pai, Deocleciano Pires Teixeira almejava para o filho uma vida política e manda-o estudar no Rio de Janeiro. Ingressou, portanto, no curso de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro. Bacharel em Direito, Anísio recebe o convite do Governador Góes Calmo para assumir em 1924 a Direção da Instrução Pública. Iniciava, assim, um caminho rumo à paixão que seguiu até sua morte, a educação.

Teixeira conseguiu ampliar o sistema educacional, privilegiando a formação de professores. Em sua terra natal, Caetité, reinaugurou a Escola Normal, que havia sido fechada em 1901 por Severino Vieira.

Anísio assume a educação num período em que o sistema educacional estava em tempos de constituição, era o final da década de XX. A educação gozava de muito pouco reconhecimento social nesse período. Dessa forma era necessário conhecer mais sobre a educação para fazer a diferença em seu país. Com isso, Anísio viaja para Europa em 1925, visitando várias cidades como a Espanha, Itália, Bélgica e França. Em 1927 viaja para os Estados Unidos e em 1928 faz um curso de pós-graduação na Universidade de Columbia.

No decorrer de suas viagens Anísio é influenciado por John Dewey e se tornam precursor e dinamizador de suas teorias no Brasil. Dessa forma, ele centra suas produções na visão democrática que os Estados Unidos trabalhava em suas escolas e publica o livro “Em Marcha para a Democracia: Á margem dos Estados Unidos”.

O fato é que John Dewey impregnou a Filosofia da Educação e a prática da educação nos Estados Unidos de um sentido construtivo que fez com que seus discípulos fossem os rebeldes da educação (…). Comunidades em crise, comunidades que haviam esgotado sua capacidade de crescimento econômico, encontraram na educação a espinha dorsal de sua recuperação econômica, social e cultural. Isso mostra uma tese que os sociólogos sempre defenderam: a da interação dialética que existe entre educação e mudança social. A educação não é só produto de mudança, ela gera mudança. Ela não é só produto da revolução social. E Anísio sentia atração pela filosofia de Dewey provavelmente porque sabia que no Brasil era através da educação que nós deveríamos realizar a nossa revolução nacional.

Em 1931 assume o cargo de Diretor Geral da Instrução Pública do Distrito Federal, o qual pedirá demissão em 1935, devido ao Golpe do Estado Novo. Entre as jazidas de manganês recém-descobertas e o convite para ser Secretario da Educação do Estado da Bahia, Anísio optou novamente pela educação, em 1947, como antes já tinha feito ao deixar de exercer a função de Bacharel em Direito, cargo onde permaneceu até 1951. Durante esse período pelo qual se afastou da vida pública, se dedicou a exportação de minérios.

Em 1950 criou o Instituto Educacional Carneiro Ribeiro, conhecida como Escola parque na Bahia que instituía a educação integral para as crianças de forma nuclear, atendendo as crianças pobres da região. Oferecia não somente isso, mas várias possibilidades de acesso à arte, educação física, oficinas etc. A Escola Parque também abrigava muitas crianças que não tinham onde morar, tornando possível a vivência de fato da escola. O projeto influenciou outras instituições de ensino em tempo integral que deu muitos frutos, tendo inclusive, recebido financiamento da United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO).

Retornou ao Rio de Janeiro e assumiu o cargo de Secretario geral da CAPES, hoje Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior. Em 1952, assume o cargo de diretor do INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, permanecendo nos dois cargos até o ano de 1964.

Com a Ditadura Militar (1964-1985), Anísio foi afastado do cargo e teve seus direitos políticos cassados, permanecendo apenas na condição de membro do Conselho Federal de Educação até o ano de 1968, atribuição que assumiu de forma ativa. Em 1971 calava-se a voz de Anísio Teixeira desaparecido em 11 de março do mesmo ano e encontrado morto num fosso de elevador no dia 14. A perícia afirmou que a morte foi acidental, porém, a família acredita que Anísio foi vítima da repressão.

Eu acho que não foi um acidente… Meu pai foi encontrado… Todo mundo diz: “Ah, caiu no elevador!”. Não! O elevador de fato tinha um defeito, tinha apresentado esse defeito seis meses antes. A porta se abria sem o elevador estar. Então como meu pai tinha essas coisas de distração, a família ficou naquela dúvida: “Será que foi mesmo? Ele abriu a porta, o elevador não estava e dizem que havia um vácuo e ele poderia ter caído”. Mas, há várias coisas. O meu pai foi encontrado sem sapato, ele não caiu em cima da viga que dividia o fosso, ele é encontrado em baixo dessa viga. A autópsia diz que ele morreu da pancada. Se ele morreu da pancada e naquele momento da queda, ele não poderia ter passado pra baixo, para passar pra baixo ele não poderia passar por um vão de 20 centímetros e nem encontrado 3 dias depois em posição fatal. Há várias contradições. (Anna Christina Teixeira M. de Barros – Filha de Anísio Teixeira, 2007 [Depoimento gravados em Documentário - Coleção Grandes Educadores - Educadores Brasileiros (Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo). – Brasil: Paulus, 2007.]).

Florestan Fernandes em seu texto “Anísio Teixeira e a Luta pela Escola Pública” relata: O educador prevalecia em todas as suas ações e chega a ser inacreditável que as mãos da ditadura militar tenham se erguido contra esse homem ao qual nós todos devemos, e que ele tenha sofrido incompreensão, incerteza e amargura, em vez de receber honras, compensação e carinho.

Em Caetité, em sua casa natal (foto acima), mantém-se a Fundação Anísio Teixeira, presidida por sua filha Anna Cristina Teixeira Monteiro de Barros, com apoio governamental (Estado e Município) e da iniciativa privada, e a Casa Anísio Teixeira, com biblioteca, museu, cine-teatro e biblioteca móvel. A instituição leva conhecimento e mantém viva a memória do grande educador brasileiro.

No Rio de Janeiro existe o Centro Educacional Anísio Teixeira, escola privada de ensino fundamental e ensino médio, com proposta pedagógica segundo as ideias do educador.

 Pensamento de Anísio algumas de suas ideias, expressas em vários livros e artigos, revelam sua constante preocupação com uma educação livre de privilégios, cada vez mais valorizada.

“Sou contra a educação como processo exclusivo de formação de uma elite, mantendo a grande maioria da população em estado de analfabetismo e ignorância. Revolta-me saber que dos cinco milhões que estão na escola, apenas 450.000 conseguem chegar à 4ª série, todos os demais ficando frustrados mentalmente e incapacitados para se integrarem em uma civilização industrial e alcançarem um padrão de vida de simples decência humana. Choca-me ver o desbarato dos recursos públicos para educação, dispensados em subvenções de toda natureza a atividades educacionais, sem nexo nem ordem, puramente paternalistas ou francamente eleitoreiras”. (Anísio Teixeira).

 

Apesar da morte prematura, Anísio deixou um legado rico para a educação nacional, pensamentos e reflexões pertinentes aos dias atuais, os quais têm influenciado as decisões na educação de forma explícita ou intrinsecamente, deste então.

 

Idealização

 

Depoimentos sobre o educador como exórdio da importância de Anísio para a intelectualidade brasileira:

... Você é o líder, Anísio! Você há de moldar o plano educacional brasileiro. Só você tem a inteligência bastante aguda para ver dentro do cipoal de coisas engolidas e não digeridas por nossos pedagogos reformadores… Eles não conhecem, senão de nomes, aqueles píncaros (Dewey & Co.) por cima dos qual você andou e donde pode descortinar a verdade moderna. Só você, que aperfeiçoou a visão e teve o supremo deslumbramento, pode neste País falar de educação! (MONTEIRO LOBATO).

 

Identidade

 Algumas opiniões acerca deste educador:

“… Cidadão íntegro, puro, decente. Além de inteligentíssimo, dono de cultura invulgar, mestre inconteste no que se refere à educação, Anísio Teixeira foi um brasileiro raro. Tão extraordinário a ponto de ter sido alvo durante toda a vida de restrições, suspeitas, aleivosias, perseguições, misérias de todo tipo com que os imundos o perseguiram — sobram imundos no Brasil. Tentaram de todas as maneiras impedir Anísio Teixeira de realizar sua missão civilizadora mas ele era irredutível e invencível. O que o Brasil de hoje possui de melhor e de maior deve-se em grande parte a este humanista baiano de grandeza universal” (JORGE AMADO).

 

“… Anísio Teixeira é o pensador mais discutido, mais apoiado e mais combatido do Brasil. Ninguém como ele provoca a admiração de tantos. Ninguém é também tão negado e tem tantas vezes seu pensamento deformado… Suas teses educacionais se identificam tanto com os interesses nacionais e com a luta pela democratização de nossa sociedade que dificilmente se admitiria pudessem provocar tamanha reação num país republicano” (DARCY RIBEIRO).

 

“Suas obras e seus conceitos continuam sendo ricas fontes de conhecimento e de inspiração para os que se preocupam com a educação e com o futuro de nosso país. Anísio deixou como herança um acervo que tem sido objeto de pesquisas, monografias e teses. Seus textos são revisitados com frequência como fonte primária para as investigações da história da educação brasileira, por estudiosos de variadas áreas do conhecimento” (NILDA TEVES). 

 

”A magnitude de Anísio Teixeira é própria de um pensador social dos mais profundos, que não perde em nada para Gilberto Freyre ou qualquer outro. (…) Ele precisa ser lembrado ao lado de historiadores como Sérgio Buarque de Holanda, sociólogos como Florestan Fernandes e antropólogos como Emílio Willens”

(MARCOS CEZAR DE FREITAS).

 

“A cadeira número 3 da Academia Caetiense de Letras, em sua cidade natal, traz como patrono o grande educador”.

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